Você quer uma vida pra chamar de “SUA”? Aceite que você precisará assumir, algumas vezes, o papel de “vilãozinho” da história
- Daniel Deggerone
- 17 de nov. de 2024
- 5 min de leitura
"Você deveria fazer medicina"
"Você deveria fazer pediatria"
"Você deveria fazer cirurgia”
"Você deveria ser que nem o Fulano"
"Você deveria fazer o que o seu pai diz"
"Você deveria fazer como o seu irmão”
“Você deveria casar. Já está na hora”
“Você deveria ter um filho. Já está na hora”
Deveria? Mesmo? Será?
Gostaria de sugerir um exercício bastante simples: olhe ao seu entorno.
O que você mais enxerga?
O que todas essas pessoas que dizem, incessantemente, o que você deveria ou não fazer com a sua bendita vida tem em suas próprias existências, longe da maquiagem, da fantasia e da mentira deslavada das redes sociais?
Deveria? Mesmo? Por quê?
O que a gigantesca parcela das pessoas que fala pelos cotovelos que precisamos fazer isso ou aquilo têm, elas mesmas, em suas próprias vidas?
Felicidade, alegria e contentamento sem fim?
Ou estresse crescente, angústia insolúvel e temor paralisante quanto ao futuro?
Bem, se você, talvez, está começando a pensar que "NÃO, EU NÃO DEVERIA, NECESSARIAMENTE, TER QUE FAZER ISSO AÍ", entenda, antes de tudo, que essa forma de agir, muitos vezes, irá o transformar no "vilãozinho da história" na boca e na mente de muitas outras pessoas.
Acho que este ponto é ABSOLUTAMENTE FUNDAMENTAL na busca por uma vida mais recompensadora, verdadeira e autêntica. Acredito que é isso também que impede muitos de atingir objetivos mais compatíveis com os seus reais desejos.
PONTO FUNDAMENTAL PRA CACETE: Muitos de nós até conseguem visualizar aquilo que desejam ou que querem evitar, mas não toleram o que é necessário fazer - ou se tornar aos olhos dos outros - para atingir seu objetivo.
Se a sua família, seus amigos, seus parceiros e parceiras pensam que sucesso é se tornar tal coisa ou agir de tal modo, caso você opte por ir contra isso, você será considerado uma ameaça ao padrão pré estabelecido.
Ameaças são tratadas, costumeiramente, com xingamentos e diferentes graus de indiferença e desprezo.
Isso vai ocorrer porque as pessoas - todas elas, incluindo eu e você - não aceitam facilmente a possibilidade de que aquilo que elas querem não ser, obrigatoriamente, o mais correto ou a melhor alternativa existente no planeta Terra.
Se você quer algo diferente é porque você, sem dúvida, estaria errado.
Você, obrigatoriamente, seria algum tipo especial de idiota.
Nos filmes que assistimos desde o primeiro coco em nossas fraldas, aquele que está errado é o vilão. Aquele que é o protetor da verdade universalmente aceita é o mocinho.
Vilões são xingados, humilhados e derrotados no final.
Mocinhos são aplaudidos, reverenciados e triunfam no último capítulo.
Assim, ao buscar um caminho diferente da maioria, você, aos olhos desta maioria, deixa de fazer parte do time dos mocinhos e se torna parte da gangue dos vilões, não pela sua maldade, mas pela sua DIFERENÇA.
A maioria das pessoas quer, sim, ser vista como sendo "o mocinho" e tem um pavor aterrorizante ao imaginar que, fazendo tal coisa, outras pessoas poderiam pensar de tal jeito.
A avassaladora maioria quer ser enxergada com admiração ao olhar dos outros e não possui a capacidade de tolerar a "não admiração" ou até mesmo um possível desprezo.
POR QUE ISSO É IMPORTANTE PRA CARALHO: Eu acho que obter uma vida que você possa chamar de "sua" no universo da medicina envolve, obrigatoriamente, ampliar a sua capacidade de NÃO SE SENTIR ADMIRADO e, inclusive, estar confortável em ser considerado, por pessoas que não pensam como você, como a "ovelinha negra" da história.
Jamais será possível obter aquilo que você quer se você ficar com receio de desagradar pessoas que não querem a mesma coisa ou não pensam da mesma forma.
Ou você segue lutando pelo seu objetivo - uma vida pra chamar de sua - sendo, possivelmente, ofendido no caminho, ou você abandona este objetivo e volta a "ser admirado" ao pensar como todos os demais.
Lembrando que, ao pensar como "todos os demais", você vai obter aquilo que todos os demais obtêm.
É isso mesmo que você quer?
"Escolhas fáceis, vida difícil.
Escolhas difíceis, vida fácil"
Naval Ravikant
Ser um "sucesso", sob os seus próprios aspectos, envolve, invariavelmente, ser um fracasso sob muitos aspectos de outras pessoas.
O contrário também é verdadeiro: ser um sucesso aos olhos da maioria, provavelmente, envolve ser, em algumas esferas, um tremendo fracasso perante si mesmo.
É como aquele político que vence uma eleição, mas que teve que vender a alma ao diabo para conseguir isso. Ele apertou as mãos mais asquerosas e fez as promessas mais nojentas para obter aquele “sucesso”.
Se nos mantivermos na “conformidade social”, cada vez mais os nossos próprios objetivos vão morrendo, sendo soterrados debaixo de uma pilha de expectativas jogadas em cima de nós "pelos outros".
Para continuarmos sendo "bem vistos" e "bem falados", abandonamos, cada vez mais, o "eu quero" em prol do "os outros dizem que eu deveria".
Tudo aquilo que você realmente quer vai morrendo pela manutenção do papel de bom mocinho social ou em algum relacionamento afetivo.
"Por que você diz isso?"
Porque eu passei mais de três décadas da minha vida tentando isso: ser visto como o mocinho, perante a minha família e perante a sociedade.
Um bom aluno na escola.
Uma ótima faculdade.
Eu me tornei aquilo que meu pai queria - médico - e o que a sociedade julgava como sendo um sucesso - um cirurgião plástico.
Eu era um sucesso aos olhos dos outros, mas um retumbante fracasso quando olhava na frente do espelho, pois estava odiando a vida que eu vivia.
Decidi, então, lutar para inverter essa equação: arriscar ser um fracasso perante muitos outros, mas sentir contentamento ao me olhar no espelho.
A vida que você realmente deseja, provavelmente, está do outro lado de um rio infestado de julgamentos levianos, conselhos ruins e um falso sentimento de culpa gerado pela busca de conformidade.
Você só chegará a outra margem se suportar isso, sem abrir mão do grande objetivo: uma vida pra chamar de "sua" dentro da medicina ou em qualquer outra área.
A MENSAGEM FINAL AQUI É A SEGUINTE: se a pessoa que está lhe aconselhando (incluindo pessoas que te amam) não tem aquilo que você deseja para a sua vida, ignore-a completamente e busque os conselhos daqueles que, de fato, atingiram o que você pretende atingir.
Você escutaria conselhos financeiros de um mendigo?
Ou sugestões de dieta de uma nutricionista francamente obesa?
Então pare de dar ouvidos sobre como você deve levar sua vida por pessoas que não descobriram nem como levar as suas próprias.
Aceite que não é possível agradar todo mundo e que lutar por algo envolve, obrigatoriamente, ser o vilão em algumas histórias.
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